segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Areia do deserto nos sapatos



Depois de tudo parecer um deserto seco, percebo a minha secura e curo-me como um viciado do mal. Já não me perco em palavras, em noites sem descanso em frente a um caderno cheio de palavras e rabiscos. Em vez disso, perco noites sem descanso a olhar para o branco do tecto onde apenas entram os raios de luz sombria da rua pelas fissuras da janela. Sentir as palavras a fugir para pensamentos secos a profanar o altar onde orei e beijei.
Olhar-me ao espelho e não conseguir perceber. Passar os dedos pela cara e não perceber se eu estou desnutrida ou são meus dedos que estão secos, já não saber o que é pegar numa caneta, de sentir pinta por entre eles ou o esquecimento de sentir cortes a fazer barcos de papel. Mas enquanto o faço e tento perceber qual a razão da secura, percebo que em tempos não precisava de perceber, não precisava de um porquê. Sentia e vivia mesmo sem havendo porquês, e estranhamente não sei como me esqueci disso. Estava envolvida num mundo estranho e peculiar que era meu. Fantoche de teatro, escritora da imaginação, cantora do meu duche, dançarina do mundo, pintora da madrugada, pensadora a toda a hora...
Mergulho na água com a esperança de deixar o deserto. Quero a nutrição que a vida me dá diariamente. Quero as mãos pintadas do azul metálico e do amarelo canário, espalhando o resto da cores num arco-íris no tecto que costumava ser branco todas as noites; os barcos feitos de papel em cada mesa de café; quero estas palavras que nunca mais foram escritas por mim nem ouvidas por ele.
Só falta o meu ser acreditar em tudo sem perceber os porquês. Nada mais me falta a não ser eu a fazê-lo para o mundo, porque tu já me dás tudo isto em todos os dias que acordo ao teu lado e me beijas "Bom dia".



Diana W.