quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Eu...



Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca


"Eu sou a que no mundo anda perdida" (...) "Alma de luto sempre incompreendida!... "
A dor e a incompressão que ela transmite em seus versos, é sem dúvida familiar para mim. Poesia ajuda-me a ultrapassar cada barreira diária. Cada pessoa tem seu lugar de refúgio, um dos meus será poesia.
Esta versão feminina de Fernando Pessoa, demonstra em alguns versos uma violência apaixonada, uma angústia pelos seus sentimentos e pela sua vida, que me deixa sem dúvida deliciado ... Algo que todos nós já sentimos quando batemos contra aquela grande parede, que por vezes teima em aparecer continuamente. A paixão dela comove-me.
É reconfortante.
É reconfortante pensar que realmente existe alguém com os mesmos sentimentos tristes de frustração. Mas penso que todos nós, no fundo, sentimos um pouco de incompreensão perante o mundo.
É difícil perceber às vezes o que se passa dentro daquela caixinha, onde representamos o nosso mundo, aquilo que é só nosso, aquele constante ... É a nossa essência. Essa essência faz de nós quem nós somos.
João Carlos

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