quarta-feira, 1 de abril de 2009

Estrelas pintadas


Quantas vezes já me sentei neste parapeito perdido à semana e olho para cima. Quantas vezes não me sentei nele quando devia. Sem querer, o céu acaba por ser meu testemunho, onde me perco, tendo aquele tempinho tão desejado que já há muito não o reconheço. Será que o céu será o mesmo que o meu neste tempo? Duvido... Cada um tem o seu espaço nesse céu mas não consigo deixar de desejar que preferia ver o teu.
Torna-se tão frio este parapeito, sinto-o bem frio mas isso não me impede de aqui estar, é onde me mergulho num mar de chá. Ao fundo ouço vozes e letras que me tornam mais quente cantando com elas, tornam a minha dor mais leve e mais intensa ao mesmo tempo porque em tempos cantamos juntos e agora apenas me ouço a mim. Não são as mesmas músicas para mim. Apesar disso canto. Costumam dizer que "Quem canta seus males espanta" mas, consegui perceber que isso não funciona assim, meus males continuam cá e até quando me deito em sonhos. Espero não dormir sozinho.

Debaixo dos lençóis há apenas UM corpo quente. Ao pé da cama apenas a cadeira, nada mais. A casa, deserta. As paredes contam as minhas histórias em que era um menino perdido e sorridente. Metamorfoses de um bicho no meio de tantos... Mas esta casa deserta apesar d parecer, não o é. Um corpo encosta-se nas paredes e assim permanece frio.

Quando ouço essa voz, algo em mim se cria: uma paz. Deitarei sempre em teu colo e suspirarei sempre de alivio. Talvez irei rir sem conseguir parar, talvez contarei histórias, em confusão de ideias, falaremos do que vemos, e talvez em momentos únicos lágrimas deslizaram por mim mas, nunca deixarei em teu colo ser eu. Tudo isso faz parte de um todo, tudo isso faz parte de um eu.

Debaixo do tecto pintado com brilho, aquele ali é o meu bocadinho de espaço, qual é o teu? Não o quero ter para mim, apenas quero desejar que quando não me vês, que olharás para o mesmo sitio que olho e sonharás. Apenas isto nos une, o céu e a ponte que criamos. Gritarei sempre do meu lado o mais alto que puder para que me ouças e que estarei sempre sentado na outra ponta à espera, nem que chuva em mim caia e que relâmpagos me atinjam. Se tiver que percorrer essa ponte para te segurar, espera-me porque estarei aí em um dia.
Fecharei agora a janela e sairei do parapeito mas amanha voltarei a abri-la e perguntarei novamente: Debaixo do tecto pintado com brilho, aquele é o meu bocadinho de espaço, qual é o teu?


João Carlos

1 comentário:

Bruno Neves disse...

Às Varandas do Eterno Porto, confesso...

Mais um titulo para um livro João... ja te disse, devias escrever um...

Abraço!