sábado, 15 de agosto de 2009

Refexão do auto-confissão


Confessemos tudo o que em nós vive.
Eu?! Não tenho confissões, mas se tiver, irei negá-los diariamente a ti.
Neste momento, apenas me confesso a mim mesma, perdida no vasto azul do céu, penso.
Molho cuidadosamente os pés na mar frio desta terra e sinto a areia por entre os dedos. Caminho. Deixo as pisadas por breves minutos até água apagá-los da memória. Como as minhas pisadas me demonstram aquilo que neste momento sou. Devo ter caminhado horas e mesmo assim não consigo nem percorrer metade do meu caminho trajectado. O meu trajecto: Caminhar para confessar e pensar para poder continuar a caminhar, redimir os meus pecados. Não penso serem muitos, mas basta um para me atormentar. O meu maior pecado sou eu mesma. Se conseguisse orar, oraria por mim. Mais ninguém tem mais medo do que eu de mim mesma. As minhas ideias, as minhas acções, as minhas emoções. Após alguns anos, sinto-me novamente perdida. A minha instabilidade aparece, desaparece e volta novamente ao estado de desequilíbrio. Acho que começa a fazer parte do meu ser, ser tudo e nada. Carrego em mim os sonhos de criança e torno-me em nada quando não o posso ser. Mudo-me. Mudo-me várias vezes. Nunca deixo de ser eu, mas ao mesmo tempo não sou eu. Sou como um retrato pintado por um grande pintor, mas um pintor não coloca a pessoa na sua tela, apenas um reflexo de uma imagem capturada por um único momento. Eu não sou um momento, sou uma mão cheia deles. Quem na verdade consegue retratar isso? Teria de pôr como hipótese uma máquina fotográfica. Correcto. Uma máquina fotográfica. Uma máquina. Mesmo assim não deixa de ser apenas uma representação de mim mesma, e não eu. Seria necessário uma câmara diária para uma vida inteira para me esboçar.
Sou ambiciosa, demasiado. Devíamos chegar a um estado de contentamento mas mais uma vez, parte da natureza humana. Queremos mais e melhores constantes para nós mesmos, com apenas um único propósito, arranjar uma razão pelo qual existir.
Existe uma segunda parte de mim, sozinha numa ilha. Neste momento sem essa parte, a minha confissão deixa de fazer sentido, deixa de existir, é para ela que me confesso. A minha longínqua metade.
Sou uma menina perdida em si mesma. Não consigo contrariar. Não consigo não ser eu. Preciso de cor, preciso da lua, preciso de um baloiço, preciso de mergulhar nesta água para me limpar de todas estas palavras que passam em mim, preciso de viver. Espero o mundo e contigo, minha metade, conseguirei. Mas sem ti, todas as palavras aqui escritas deixam de fazer sentido. Se fosse pessoa inteira, pessoa completa, a vida não deixaria de ter rumo mas enquanto caminho com os pés molhados, os meus sonhos mudam. Continuarei a caminhar, mas nunca será o mesmo momento, as mesmas pisadas, as mesmas palavras, sabendo que existes, que estás perdida na ilha abandonada, e eu aqui sem ti, minha metade de mim.


Diana W.

1 comentário:

Bruno Neves disse...

A outra metade da ilha, depois de ler algo tao bem escrito, apenas consegue dizer "Obrigado por existires" e por fazeres parte da vida dela - a outra metade.